Segunda-feira, 21 de Janeiro de 2008

The Witcher


Personagens carismáticas, temas fortes e controversos e decisões que transcendem a simples escolha entre o bem e o mal são apenas alguns dos condimentos que fazem de The Witcher um dos principais títulos de 2007.

The Witcher é a prova de que um roleplaying game não precisa de ser uma imensa caixa de areia para se tornar um jogo apelativo nos dias de hoje. É um erro pensar que a árdua tarefa de criar ambientes altamente inteligentes e autónomos é o único caminho para tornar um RPG digno do interesse dos seus tradicionais adeptos, não sendo sequer esse o principal aspecto deste género.

Para que um jogador aceite desempenhar o papel de uma personagem, é preciso que esta provoque empatia em quem pressiona as teclas como quem assiste a um filme ou folheia um livro. De facto, é das obras literárias do polaco Andrzej Sapkowski que emerge Geralt of Rivia, o caçador de monstros que, tal como o jogador, não tem memória do que se passou antes de aquele ter sido dado como morto. É certo que a amnésia é um tema recorrente, mas este é rapidamente remetido para plano de fundo à medida que assuntos mais sérios vão surgindo. As vindas do "apocalipse" ou do "anticristo", que povoam os jogos do costume, são aqui substituídos por temas como a corrupção, epidemias, racismo, sexo e drogas, bem mais reais e pouco habituais nos videojogos, mas que valem a The Witcher um selo para maiores de 18 anos.

A fama de Geralt of Rivia no reino de Temeria coloca-o na posição chave de uma jornada através de um mundo obscuro onde todas as suas decisões contam para o desenrolar da narrativa, nunca sabendo em que medida ou momento tais irão influenciar o sentido da sua evolução. Todas as escolhas têm os seus custos e benefícios, caso Geralt decida alinhar-se por uma facção ou ficar-se pela neutralidade. Quaisquer que estas sejam, é garantido o encontro com personagens convincentes, bem como a exibição de diálogos de qualidade suficiente para imergir o jogador até um dos finais possíveis, que certamente lhe dará que pensar.

Geralt passou por um processo de mutação e treino a que poucos sobrevivem para se tornar um witcher. Contudo, este processo não é estanque. À medida que ganha experiência, é possível escolher certas habilidades mediante a atribuição de pontos, algo apenas possível em locais específicos, destinados à meditação. Em The Witcher, o conhecimento é bastante valorizado, pois apenas este dá a Geralt a oportunidade de obter certos itens, quer através da extracção directa a partir de plantas ou criaturas, quer através de alquimia. É nesta base que assenta o livro onde o anti-herói regista a progressão nas suas demandas, que para além de dispor de úteis opções de filtragem, apresenta glossários referentes a vários domínios. Contraditoriamente, o sistema de gestão do inventário utilizado é um passo atrás em relação ao habitual. A falta de organização dos itens, bem como as suas reduzidas dimensões, dificultam a rápida identificação.

O jogo apresenta um sistema de combate inovador, regido pela sincronização de sequências de ataques, ao invés de cliques indiscriminados nos adversários, podendo ser aplicado tanto a partir do ponto de vista isométrico (semelhante ao da série Neverwinter Nights), onde o jogador se limita a usar o rato, como da visão sobre o ombro, onde o teclado se junta aos controlos. De modo a complementar o combate armado, Geralt dispõe de cinco "signos" mágicos que, como os restantes atributos, o jogador tem a possibilidade de fazer desenvolver. Ainda no combate, fica a referência negativa ao facto de Geralt insistir em guardar a arma que empunha quando se sente em segurança, mesmo quando não é essa a opção do jogador, o que é particularmente irritante quando se pretende dar uso a uma tocha (também usável como arma) para iluminar determinado local.

Indissociável da história do jogo encontra-se a componente artística de The Witcher, a qual é certamente uma das suas mais-valias. O ambiente medieval fantástico foi muito bem conseguido, para o qual contribui também o departamento musical, capaz de fornecer tanto harmoniosas melodias como poderosos hinos de guerra, de acordo com a situação.

Há ainda a apontar, desta vez no domínio técnico, alguns crashes e tempos de carregamento excessivamente longos, sendo que os últimos deixaram de ser um problema com o último patch disponibilizado, notando-se reduções para menos de metade em diversos casos.

Vindo da CD Projekt Red, The Witcher foi já galardoado por muitos com o título de melhor RPG de 2007, sendo merecedor da escolha por parte de jogadores interessados em histórias fantásticas em cenários obscuros, ao estilo de Diablo, e não só. Para quem já o experienciou fica a nota de que há intenções para que a saga de Geralt of Rivia seja continuada, seja através de uma expansão, seja de uma sequela.


Publicado por NMancer às 23:00
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